Pages

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Poly and Dating

Há uns tempos decidi voltar a sair com pessoas novas. Ah, e tal, é verão, estou mais ou menos de férias, tenho mais tempo, vamos lá aumentar o grau de tolerância e dar hipóteses à vida para me surpreender.
Não me posso queixar. Nas últimas semanas conheci pessoas interessantes, estimulantes, refrescantes. O mundo à minha volta está um bocadinho mais vivo do que da última vez que verifiquei.
Mas ser poly e querer conhecer pessoas novas implica muitas vezes abdicar da espontaneidade que procuro, e sair de casa com muita atenção onde ponho os pés.
Não pretendo de todo ocultar essa parte de mim. Mas assim que se introduz o tema "sou poly, tenho dois namorados", acontece pelo menos uma de quatro coisas:
- Não se fala de absolutamente mais nada durante o encontro todo.
- Levo com uma bateria de perguntas que, entre serem cândidas e ofensivas não demora mais de 5 minutos (coisa que me levou a adotar a regra "tens direito a 5 perguntas sobre este tema").
- A maior parte das vezes ainda ganho de bónus todo um receituário do que devia fazer para ser mesmo feliz.
- A outra pessoa afasta-se ou nunca mais oiço falar dela.
Bem vistas as coisas, a última hipótese é muitas vezes o melhor que me pode acontecer. Mas fica sempre um certo travo de "damaged goods", ou discriminação, ou lá o que se quiser chamar.
Quando vou conhecer pessoas não tenho nenhum tipo de relação em mente. Não posso propriamente dizer que tenha demasiados amigos, por isso acho possível encaixar mais um.
Mas por razões que não compreendo bem, a maior parte das pessoas prefere saber à partida com o que pode contar (como se isso fosse possível). E neste caso, mesmo que não estejam interessadas em mim, mais vale nem se darem comigo, não vá um dia quererem mais alguma coisa (saltando diretamente para o patamar da exclusividade), e não a poderem ter. É assim uma espécie de investimento em futuros na Bolsa da Felicidade.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Silêncio na sala de leitura

Quando há uma semana me perguntaram se me sentia discriminada, pensei durante uns segundos e respondi que não. Sentada à mesa depois de um debate sobre poliamor, e rodeada das perguntas que não se fazem em público mas que surgem em catadupa numa conversa de café, respondi com singeleza e alguma perplexidade. A verdade é que as minhas experiências de coming out são quase todas positivas ou fantásticas. Mal sabia eu que havia de pagar pela boca uma semana depois. Num jantar combinado para receber uma nova hóspede, foi-nos servida uma conversa que teríamos dispensado mas que tentámos conduzir com a serenidade possível. 
Neste momento somos quatro cá em casa. Mas o espaço e a renda dão para cinco, por isso temos recorrido ao Airbnb para usufruir da experiência social do Couchsurfing, aliada à vantagem monetária agora tão necessária. Em poucos meses recebemos quase 40 pessoas, de todas as idades e nacionalidades, e o nosso perfil do Airbnb está cheio de elogios e recomendações entusiastas. 
No início um de nós perguntou se deveríamos avisar que somos uma família "diferente". Eu achei que fazia tanto sentido alertar para isso, como para o facto de sermos consumidores massivos de torradas e ser quase certo encontrar a cozinha cheia de migalhas. Sim, é uma coisa com que se poderiam cruzar ao pequeno-almoço. Um beijo de bom-dia aqui e outro ali. Sim, poderia ser diferente e estranho. Mas continuo a achar que as migalhas são mais incómodas do que ver uma pessoa a beijar uma e depois outra. A vida que os nossos hóspedes levam, dependendo de cada um, cruza-se com a nossa num jantar, em frente à televisão (sim, somos tão aborrecidos como as famílias "normais", onde quer que elas andem), ou a maior parte das vezes apenas no dia em que chegam. 
Desta vez fizemos um esforço extra, porque a rapariga era portuguesa, jovem, e ia ficar três semanas, enquanto se adaptava ao novo trabalho na capital e procurava casa definitiva. Ao jantar, por entre a conversa de boas-vindas e os esforços de a fazer sentir-se confortável, veio a pergunta "Então e onde é que vocês se conheceram?". Tentámos evitar a resposta que sabíamos não ser simples, mas ela não nos deixou ficar pelas frases lacónicas. E eu sempre com sérias dúvidas sobre se a nossa vida privada teria realmente relevância para a sua vida quotidiana. 
Seguiu-se o que não nos apetecia. Uma sessão de perguntas que variou entre o simpático e o excruciante. Pelo meio, uma declaração frontal de que tenho dois namorados, e uma reação de espasmos, engasganços, olhares aterrorizados. Julgo até que vi tremuras. Pânico puro, que foi cuidadosamente disfarçado por ela, entre rasgos de inteligência e lucidez, e tiradas constrangedoras de (i)lógica religiosa. Foi a primeira vez que ouvi alguém falar de "verdade absoluta" como se fosse uma coisa boa. 
Vou poupar-vos aos pormenores e contar já o fim. No dia seguinte a nossa hóspede ligou ao pai para a vir buscar, pegou em todas as armas e bagagens com que chegou e foi-se embora. Por não conseguir lidar com "novas realidades".
 As nossas reações variaram apenas no grau de abertura de boca. Eu lembrei-me da conversa da semana anterior, de quando tinha dado voltas à cabeça para me lembrar de uma reação negativa ao poliamor e não tinha conseguido. Lembrei-me de todas as pessoas que ao longo dos anos me disseram que Portugal não é Lisboa e que subestimava a influência (ainda bem viva e de saúde) da Igreja e da ditadura. E decidi que não voltaria a falar com aquela singeleza, sem explicar ao interlocutor que me rodeio dos mais variados tipos de pessoa, mas que todas elas têm, provavelmente, em comum, o facto de se moverem em círculos em que se considera a aprendizagem algo positivo e não ameaçador.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Fui de visita à minha tia a Marrocos...

... mas já voltei.
Quase um ano e meio depois do último post, e depois de um fim de semana revigorante, volto a escrever sobre poliamor.
Muita coisa aconteceu neste ano e meio. E a verdade é que aconteceu tanta coisa ao mesmo tempo, que senti que não conseguia falar sobre isso enquanto estava a acontecer. Perdeu-se um testemunho mas ganhou-se em sanidade mental, gosto eu de acreditar.
Passem por aqui de vez em quando, para ver se há novidades.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Rever o Shortbus


aqui falei deste filme, que para mim é uma referência. Que me lembre, vi-o umas seis vezes e cito-o por tudo e por nada. Parece-me lindíssimo por dentro e por fora, quer visualmente quer em termos de conteúdo.
Quem nunca viu, tem hoje uma oportunidade imperdível. A projeção é seguida de debate aberto.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Tenho andado à rasca...


Há semanas que não punha as teclas neste blog, mas se começasse a explicar porquê, provavelmente teria matéria para vários posts. E não falta quem me diga que faça isso precisamente, de modo que... cá vai uma tentativa de muro de lamentações.
A nossa família poly perdeu um membro. O que nos levantou, entre outras questões, a de encontrar outra(s) pessoa(s) para poder manter a casa. Fizemos um par de "propostas de casamento", recebidas com muito entusiasmo e honra. Mas depois de alguma ponderação, a resposta de ambos os lados foi a mesma e pode ser resumida nesta frase: "Não dá, estamos à rasca".
Tenho sempre algumas dúvidas sobre fazer deste blog uma coisa demasiado política, por mais que me digam que "o pessoal é político". Mas a verdade é que a situação em que estamos todos me influencia diariamente. Não só a vontade de escrever, mas também o ânimo de ir trabalhar, a libido e a disponibilidade para cozinhar, "a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir."
Não é por acaso que aqui se escreve menos ou há ainda poucas pessoas nos nossos encontros, apesar da divulgação na imprensa ter sido nos últimos tempos maior e mais constante do que nunca. As pessoas andam à rasca. Isso vê-se no trânsito, na fila do banco e nos bancos das escolas. Os níveis de stress e angústia atingem uma escala que não me recordo de ver. E com os problemas diários que se acumulam e agigantam, não será surpreendente que as pessoas não tenham vontade de questionar instituições como a monogamia.
A liberdade existe na teoria, mas faltam os meios. Falta a visão a longo prazo, impossibilitada pela precariedade. Eu, como quase todas as pessoas que conheço da minha geração, sou precária e mal paga. Mas só por mais uns meses, até voltar ao desemprego.
Acredito que isto se passe um pouco por tudo o que é forum e grupo de coisas "idealistas". O tempo não está para os sonhadores, dirão alguns. E por um lado têm razão. Mas queixarmo-nos para nós próprios e para o vizinho do lado não tem nenhum resultado a não ser chatear e desanimar ambos.
A manifestação que está marcada para o próximo dia 12 também não terá grande resutado prático. O governo não vai cair. Para isso seriam precisos milhões nas ruas em vez de escassos milhares. Seria preciso acreditar que há na calha uma alternativa melhor, quando na verdade o que se deve questionar é todo o sistema político e econónimo. Mas isso leva tempo, dá trabalho. E levantar os olhos do próprio umbigo, parecendo que não... ainda faz suar um bocadinho.
Normalmente não acredito em greves que não sejam de zelo e parecem-me as manifestações uma coisa em muitos aspectos ultrapassada. E no entanto lá estarei no Sábado. Não por acreditar que a minha presença vai acabar com a crise e as injustiças. Mas por me recusar a ser espezinhada em silêncio e ainda agradecer. Vou lá estar para olhar nos olhos todas as pessoas que, como eu, estão à rasca, umas ainda mais do que outras. A geração a quem se prometeu tudo e que assiste estupefacta ao(s) rato(s) que da montanha nascem.
Se não servir para mais nada, que sirva de terapia de grupo, para dizermos uns ao outros que não estamos sós, que não desistimos e não somos estúpidos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ser bissexual e ler revistas idiotas

A revista Activa publicou no seu site, no passado dia 18, um artigo que já tinha publicado em papel, em Junho de 2009. Um texto sobre bissexualidade que, entre inúmeras pérolas, avança uma definição para o poliamor:

"Cada vez mais há variantes da sexualidade, como é o caso do poliamor, uma relação entre três ou quatro pessoas, que vivem juntas." (citação atribuída ao psicólogo Fernando Mesquita)

O que me deixa a pensar que, se quero mesmo ser poliamorosa, tenho que meter uma pessoa fora de casa (porque cinco já deixa de ser poliamor e começa a ser libertinagem). E pôr um dos outros quatro quartos em regime de rotação. Bem que me avisaram que isto do poliamor era mesmo complicado!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011